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“A socialização com base no género refere-se aos papéis específicos do género ou às atitudes e expectativas estereotipadas dos pais, professores, e outras influências socializadoras tais como os meios de comunicação social, que veiculam estereótipos de género” (Wille, et al., 2018, Wigfield et al., 2015). À medida que as crianças crescem, é-lhes ensinado como se devem comportar com base no seu género e nas normas, valores e crenças associados ao mesmo. Os estereótipos de género podem assim ser vistos como um resultado imediato da socialização do género. Este conceito descreve os fatores sociais que afetam os estereótipos género e pode ser pensado em relação às origens ambientais e culturais dos estereótipos mencionados anteriormente. Alguns exemplos de investigação sobre a socialização de género e dos estereótipos de género que dela resultam nas crianças são resumidos a seguir.
Matemática – rapazes vs. raparigas: Enquanto os rapazes valorizam a matemática, o mesmo não acontece com as raparigas, que não se identificam com a disciplina (Eccles et al., 1983; Wigfield et al., 2015). As pesquisas realizadas têm demonstrado que a ativação de estereótipos tradicionais de género torna-se saliente e leva as raparigas a “desligarem-se” da matemática, uma vez que sentem que não pertencem ao grupo de alunos “que se dão bem” com esta disciplina. A desmotivação resulta num desempenho inferior em matemática (Spencer et al., 2016). É importante notar que, quando os estereótipos não são destacados antes de uma prova de matemática, as raparigas têm resultados tão bons como os rapazes (Nguyen e Ryan, 2008; Doyle e Voyer, 2016).
Essencialmente, é a ameaça estereotipada que faz com que os estereótipos de género se tornem salientes e tenham os efeitos acima mencionados no desempenho e motivação das raparigas. Os psicólogos Claude Steele, PhD, Joshua Aronson, PhD, e Steven Spencer, PhD, descobriram que relembrar a alguém que pertence a um grupo específico estereotipado como tendo um fraco desempenho numa determinada disciplina académica pode ter efeitos negativos nos resultados obtidos nos testes dessa disciplina.
E no caso dos rapazes? Embora vários estudos tenham indicado que os efeitos dos estereótipos sobre o desempenho e motivação das raparigas e das mulheres em relação à matemática são significativos, a maioria dos estudos não relatou efeitos (positivos ou negativos) para os rapazes ou para os homens. (Wille, et al., 2018).
Pergunta para reflexão: Quando começam os estereótipos a influenciar as perceções de género de uma criança?
A socialização do género começa por vezes mesmo antes do nascimento. Pensando nas cores que são atribuídas a cada sexo nos primeiros anos, os pais quando conhecem o sexo do seu bebé antes de este nascer, preparam o quarto do bebé e compram roupas que se adaptam às expectativas sociais do sexo que será atribuído ao bebé depois de nascer.
Estudos demonstraram que as crianças na escola primária (com idades a partir dos 5 anos) já estão conscientes do seu próprio género e mostram pontos de vista estereotipados sobre o género quando se trata de matemática, uma vez que atribuem menor capacidade e talento matemático a mulheres e raparigas em comparação com os homens e rapazes (por exemplo, Signorella et al., 1993 ; Ambady et al., 2001 ; Passolunghi et al., 2014).
É importante salientar aqui a existência de fluidez de género. Determinadas pessoas não se identificam com nenhum dos géneros ou identificam-se como transgéneros. Por conseguinte, esta distinção binária juntamente com os estereótipos que se seguem pode ter efeitos muito negativos nas crianças que não se identificam com qualquer dos sexos ou com aquele que lhes foi atribuído à nascença.
Em suma, é evidente que a socialização do género não só começa muito cedo para a maioria dos indivíduos, como também tem efeitos consideráveis no desempenho académico das raparigas e mulheres.
De acordo com o Eurostat, na UE em 2019, havia 6,3 milhões de mulheres a trabalhar como cientistas e engenheiras (ou seja, “pessoas com formação científica ou tecnológica que se dedicam ao trabalho profissional em atividades científicas e tecnológicas, administradoras de alto nível e pessoal que dirige a execução de atividades C&T”), representando 41% da mão-de-obra total nestes sectores. Evidentemente, os números variaram nos diferentes países, vistos na infografia aqui apresentada pelo Eurostat.
Além disso, em 2020, o Eurostat reportou que 51,3% (37,5 milhões) de toda a mão-de-obra (73 milhões) em ciência e tecnologia (ou seja, pessoas que completaram o ensino superior ou que não se qualificaram formalmente, mas que estão a exercer uma ocupação na área da ciência e tecnologia onde as qualificações acima referidas são normalmente exigidas) eram mulheres. Mais uma vez, os números diferem em função do país, como se pode ver no infográfico aqui.
De acordo com o site stemwomen.com, o número de mulheres a trabalhar nas STEM no Reino Unido é consideravelmente mais baixo do que o número de homens.
Mais especificamente, em 2019 no Reino Unido, as mulheres atingiram: