Unidade 6 Estereótipos de género no currículo oculto

Currículo oculto

Todos sabemos que as escolas seguem um determinado currículo oficial que é aprovado e consistente com objetivos de aprendizagem claros. No entanto, existe outro tipo de currículo não oficial, apelidado de “currículo oculto” que se refere às aprendizagens não escritas e provavelmente não intencionais dos alunos na escola. Abrange todas as mensagens académicas, sociais e culturais implícitas que são transmitidas aos alunos ao longo dos seus percursos escolares. Contrariamente ao currículo oficial, não existem quaisquer diretrizes específicas incluídas no currículo oculto.

Onde encontramos o currículo oculto?

Valores culturais: Os valores que são promovidos e encorajados dentro de uma escola fazem parte do currículo oculto. Os estereótipos e preconceitos estão a ser aceites enquanto norma ou estão a ser contestados?

Tópicos curriculares: embora os objetivos de aprendizagem no currículo oficial sejam especificados, os tópicos abordados nas aulas são mais flexíveis e podem fornecer perspectivas diferentes sobre as mesmas questões. Por exemplo, no caso de disciplinas tais como história, estudos sociais, estudos religiosos e outros, os tópicos escolhidos para discussão e análise na sala de aula podem receber feedbacks/perspectivas completamente diferentes de escola para escola.

Regras institucionais: Algumas regras institucionais podem afetar as visões dos alunos sobre o mundo. Por exemplo, no que diz respeito à liberdade de expressão, as escolas que não usam uniformes proporcionam implicitamente mais espaço para a expressão individual através do vestuário, enquanto que as escolas com uniformes podem ser pensadas para proporcionar um sentido mais forte de comunidade através da uniformidade.

Currículo oculto (continuação) - Textos, recursos e linguagem quotidiana

Foram analisados textos de recursos académicos nas últimas décadas do século XX, que Sunderland considerou como retratos da dominância masculina. No entanto, é importante notar dois aspetos importantes observados nestes textos:

  1. Os verbos associados a raparigas e mulheres incluíam representações estereotipadas do seu género;
  2. nos diálogos, raparigas e mulheres falavam menos e raramente iniciavam o diálogo.

Sunderland propôs que existisse uma relação dinâmica entre os alunos, professores e materiais didáticos e é aqui que o currículo oculto se torna importante.

Sunderland (2000) argumentou que o texto em si não define a forma como será tratado pelos professores e pelos alunos. Isto significa que mesmo um texto tendencioso relativamente ao género pode ser utilizado numa sala de aula com caráter pedagógico, desde que o professor o utilize neste sentido. O enquadramento teórico de Sunderlands’ (2000) apresenta-se resumido no diapositivo seguinte.

Finalmente, a linguagem quotidiana também é muito importante. Os estereótipos de género podem ser facilmente reforçados através do uso da linguagem quotidiana que muitas vezes passa despercebida. A Lifting Limits, uma instituição de caridade que visa desafiar os estereótipos de género nas escolas Gender stereotypes in schools – Lifting Limits), fornece alguns exemplos disso:

  • Dizer a um rapaz para “ virar homem ” para lidar com o bullying;
  • Tentar insultar os rapazes referindo-se a eles como “meninas”;
  • Dizer a uma rapariga que não deve transportar um objeto pesado dizendo “isso é trabalho de menino ”.

Outros exemplos incluem:

  • “Futebol não é para meninas”;
  • “Pede à mamã que assine o formulário”;
  • “Preciso de rapazes fortes para ajudar a transportar a mesa”
  • “Vi a senhora médica hoje”.

Todos estes exemplos de reforço dos estereótipos de género nas escolas, juntamente com os estereótipos existentes fora da sala de aula, resultam num efeito combinado para as raparigas e mulheres que têm sido discutidos ao longo deste curso (isto é, escolhas profissionais, escolhas de vida, violência contra mulheres e raparigas).

Sunderland (2000)

How to avoid gender stereotypes: Eleanor Tabi Haller-Jordan at TEDxZurich (en inglês)