Unidade 7 Desafiar os estereótipos de género

Desafiar os estereótipos de género na sala de aula significa começar a questionar os nossos próprios preconceitos em torno do género. Todos nós fomos sujeitos, ao longo da nossa vida, a influências específicas que moldam as nossas atitudes relativamente ao género. Estas influências englobam: atitudes dos pais, da escola, dos grupos de pares, ideias transmitidas no ensino superior e contactos sociais.  Pensar estereotipicamente significa assumir que um grupo de pessoas que partilham algumas características também partilham certos atributos. Por outras palavras, quando alguém assume algo sobre uma pessoa com base num aspeto específico da sua identidade. Muitas vezes o pensamento tendencioso e estereotipado leva-nos a utilizar o pensamento generalizado.

Considere as seguintes questões para refletir sobre sua própria prática (National Education Union, 2013 ):

  • É aceitável que as raparigas chorem mais do que os rapazes?
  • Há algo na organização da sua sala de aula que possa reforçar os estereótipos de género – por exemplo, existem brinquedos para raparigas ou livros para rapazes?
  • Dirige-se às raparigas e aos rapazes de forma diferente?
  • Existem sanções diferentes para rapazes e raparigas?
  • Interage mais com as raparigas do que com os rapazes?
  • Essas interações são diferentes?
  • Consegue pensar em livros (ou outros recursos) que tenha utilizado que desafiem os estereótipos de género – por exemplo, que apresentem raparigas confiantes e rapazes atenciosos?
  • Conhece outras medidas/ações que possam permitir consciencializar as crianças de que nunca nos devemos sentir limitados pelo nosso género?

Todos nós temos preconceitos. O importante é estar atento aos mesmos e desafiar-se a si próprio quando sente que estão ativados. A autorreflexão envolve “um diálogo consigo próprio sobre os nossos pressupostos fundamentais, valores e formas de interagir. Neste diálogo, questionamos as nossas crenças fundamentais e a nossa compreensão de acontecimentos particulares” (Cunliffe & Jun, 2005). Isto é importante em termos de exploração da nossa experiência e do que podemos trazer ao ensino.  Ao examinar e investigar o nosso contexto social e institucional, a autorreflexão permite-nos ultrapassar “constrangimentos estruturais” que podem ser traduzidos para a sala de aula e para os alunos.

Embora ter consciência dos estereótipos e dos nossos próprios preconceitos seja o primeiro passo para os descontruir, é agora importante ter consciência das diferentes formas de desafiar ativamente os estereótipos de género na sala de aula.

What kindergarteners taught me about gender | Batya Greenwald | TEDxCU (em inglês)

Desafiar os estereótipos de género: primeira infância, contos e literatura

Segundo Cathy Nutbrown (2012), para desafiar os estereótipos na primeira infância, devemos:

  • Enfatizar as questões de género ao longo da formação de professores;
  • Reconhecer o impacto das famílias nas construções de género das crianças;
  • Contratar tanto homens como mulheres;
  • Monitorizar as formas como as crianças mostram os seus conhecimentos sobre os homens e mulheres nos seus jogos de género;
  • Considerar os possíveis efeitos restritivos dos jogos de género na aprendizagem.

Os contos de fadas e histórias tradicionais reforçam frequentemente conceções limitativas da masculinidade e feminilidade, que influenciam as ideias e crenças das crianças sobre o género, especialmente quando são muito jovens. Contudo, também podem ser utilizados como ferramentas para desafiar estereótipos na sala de aula e encorajar o pensamento crítico.

Um estudo realizado por Meland (2020) explica como a “reinvenção” do conto de fadas “A princesa e a Ervilha” proporcionou uma oportunidade para explorar e desafiar os papéis de género. Depois de ver uma versão alternativa do conto, onde a princesa foi representada como forte e corajosa, e o Rei representado como vaidoso e feminino, os professores puderam observar um decréscimo dos comportamentos estereotipados de género entre as crianças. Medland salienta que, embora um conto de fadas “atípico em termos de género”, como a versão da Princesa e da Ervilha de Dybwikdans possa desempenhar um papel vital para ajudar as crianças a desafiar os seus pontos de vista sobre estereótipos, muitas crianças não são capazes de o fazer por si próprias. Por conseguinte, é importante que os professores intervenham e ajudem as crianças a compreender através de perguntas e atividades de acompanhamento..

Da mesma forma, Wee et. al (2017), lançaram um estudo sobre sessões de leitura de contos de fadas tradicionais e das suas versões alternativas, seguidas de discussões e atividades de acompanhamento. O estudo revelou que, ao serem colocadas perguntas provocadoras como “Se a Branca de Neve não fosse bonita, os anões tê-la-iam aceite?”, as crianças foram capazes de usar capacidades de pensamento crítico e lógico para revelar preconceitos e estereótipos de género prevalecentes nas histórias.

Ao escolher livros que desafiam os estereótipos de género e ao incorporá-los em esquemas de alfabetização, as crianças são encorajadas a identificar personagens ‘estereotipadas’ noutras histórias. Especialmente no caso das crianças pequenas, é importante destacar os momentos em que um livro desafia ou perpetua estereótipos e indagar de que forma isto afeta a personagem. Com grupos etários mais velhos, o professor pode incitar discussões sobre estereótipos nos meios de comunicação social e se estes influenciam o nosso comportamento, com ou sem conhecimento de causa (National Education Union, 2013).

Desafiar os estereótipos de género: comunicação, linguagem e modelos

De acordo com a Lifting Limits, embora a língua possa ser uma ferramenta poderosa para desafiar os estereótipos de género, também pode ajudar a perpetuá-los.  Apresentam-se aqui algumas ideias referidas pela Jillian Star Teaching & National Education Union:

  • Em vez de se dirigirem aos vossos alunos como “rapazes e raparigas”, procurem usar uma terminologia mais inclusiva e neutra em termos de género, tais como: alunos, amigos, aprendizes, crianças. Este método é aplicável não só à comunicação dirigida aos alunos, mas também quando se refere a outras pessoas, como por exemplo no caso das profissões. Em vez de falar de um médico usando o “ele” ou de uma enfermeira usando “ela”, tente usar pronomes neutros como “eles/elas”.
  • Ao formar grupos na turma, utilize outros qualificadores em vez do género. Há aqui uma vasta gama de opções e alguns exemplos podem incluir: qualquer pessoa com um A no seu nome; estudantes com um irmão mais velho; ou crianças com um aniversário em Junho. A utilização destes critérios em vez do género ajuda a reafirmar o que os alunos têm em comum, em vez de realçar as diferenças entre os géneros.
  • Quando se ouve crianças a perpetuar estereótipos de género, não só é importante corrigi-los como também iniciar discussões. O questionamento perante este tipo de comportamento permite à criança desafiar o seu próprio uso da língua e desenvolver as suas capacidades de pensamento crítico. Fazer perguntas tais como “será porque as pessoas pensam que as raparigas não são suficientemente fortes?” ou questionar de onde vêm as ideias sobre “coisas de raparigas e coisas de rapazes” pode levar a mudanças poderosas de pensamento.

Utilizar pessoas (particularmente mulheres) que desafiam os estereótipos de género como modelos a seguir é uma ótima forma de desafiar pressupostos e ideias enraizadas. A utilização de  modelos a seguir, tanto na aula como nos visitantes externos, pode inspirar as crianças a combater os estereótipos. É importante que falem sobre o que gostam quanto ao que fazem na vida e como alcançaram os seus objetivos.

The Anti-Fairytale of Gender Stereotyping (em inglês)

Who inspires you? Why heroes, role models, and mentors matter | Dyan deNapoli | TEDxDrewMiddleSchool (em inglês)