Tópico 1 Os preconceitos inconscientes dos professores: um fator-chave

De acordo com Kelisa Wing e Megan Gross (How to Recognize, Avoid, and Stop Stereotype Threat in Your Class this School Year, 2018). “Todos nós temos preconceitos, se formos verdadeiramente honestos connosco próprios. A melhor maneira de identificar os nossos preconceitos é olharmos para nós próprios e sermos honestos sobre o que descobrimos. Através deste processo, podemos identificar quais são os preconceitos e assegurar que não têm lugar nas nossas salas de aula”.

O programa de investigação “Improving Gender Balance and Equalities Programmes” (Escócia, Abril de 2019), apresenta pontos-chave muito importantes da revisão bibliográfica que foi levada a cabo.

  • Os estereótipos de género e os preconceitos inconscientes têm um impacto nas instituições de ensino primário e de cuidados infantis assim como nas salas de aula do ensino secundário através de múltiplos mecanismos. As escolas são um dos contextos sociais em que o comportamento adequado ao género é definido e construído.
  • Os educadores podem ter expectativas diferentes em função do género das crianças. Tanto os rapazes como as raparigas podem ser prejudicados e em desvantagem relativamente a estas expectativas.

Estes pontos-chave levam-nos a concluir que, antes de tentarem trazer soluções para desconstruir estereótipos de género, os professores necessitam de refletir sobre as suas próprias percepções, suposições e preconceitos de género, a fim de eliminarem os preconceitos inconscientes nas suas práticas pedagógicas.

De facto, “há várias mentalidades comuns que os professores nem sequer conhecem, as quais estão enraizadas em crenças tendenciosas” (Thompson, 2004). Os professores devem então colocar estas questões sobre si próprios:

  • Acredito mesmo que todos os alunos, independentemente da raça, etnia, sexo ou origem socioeconómica, são capazes de ser academicamente bem sucedidos?
  • Não terei preconceitos quanto à comunidade a que os alunos pertencem que me impedem de ver o seu potencial académico?
  • Trato os meus alunos como gostaria que os meus próprios filhos fossem tratados pelos professores?

São perguntas bastante simples, mas às quais é difícil de responder tendo em conta que, segundo Matt Pinket, do Kings College, “os professores não gostam de admitir que são humanos. Há uma pressão sobre nós para pensarmos que somos santos: admitir as nossas falhas é admitir que somos humanos” (Boys don’t try, 2019).  Acredita que, para mudar os comportamentos nas escolas, os professores devem reconhecer que estão sujeitos a ter os mesmos preconceitos que as outras pessoas.

Afinal, ninguém quer pensar que é tendencioso, particularmente as pessoas que dedicam o seu tempo, dinheiro e energia a ensinar as próximas gerações (The Graide Network, 2018).

De acordo com uma pesquisa realizada por Rigisa Megalokonomou, da Universidade de Queenland, Professor Victor Lavy, da Universidade de Warwick, e da Universidade Hebraica de Jerusalém (o preconceito de género entre professores é real e tem efeitos duradouros nas notas e escolhas de dos percursos escolares dos alunos), os preconceitos estão profundamente enraizados nas atitudes e comportamentos dos professores.

Apenas alguns professores são neutros em termos de género no seu comportamento. Alguns professores gostam mais dos rapazes e outros professores preferem as raparigas, e estas preferências diferem em função do assunto que está a ser abordado. Estas atitudes, que podem ser conscientes ou inconscientes, têm um impacto sobre o potencial dos alunos.

Até os professores mais dedicados têm estereótipos e crenças que têm um impacto nos seus alunos. Infelizmente, estas crenças podem ser tão prejudiciais como inevitáveis – quando não examinadas. (The Graide Network, 2018).

Desta forma, os professores precisam de analisar e trabalhar primeiro nos seus preconceitos, embora não seja evidente reconhecê-los, uma vez que estão tão profundamente enraizados em cada ser humano.